Mamãe sempre me ensinou a não ouvir as conversas alheias, mas, como adoro fazer isso - particularmente na praia - não resisti. Dias desses estava em Ipanema, no trecho em frente à Farme – reduto gay carioca – e ouvi afirmações do tipo: “Eu tenho medo de chegar”, “Eu também. Quando estou muito afim, eu tremo e gaguejo...” Eram três homens, de diferentes idades. Ambos eram bonitos e interessantes, ao seu modo, de acordo com a sua idade. E inteligentes também, coisa difícil de se ver por aí. Conversavam sobre seus medos e questionamentos.
Em uma coisa os três concordavam: ninguém ficava com outrem apenas por beleza física. Diziam querer mais. Um deles se arriscou em uma estimativa: “70% da beleza de uma pessoa se deve à sua simpatia e atitude”. Um outro dizia que por mais que beltrano fosse lindo, ele não tinha uma nuca bonita. Sim, NUCA, a parte de trás do pescoço. Eu gasto, em média, uma hora e meia na academia – para alguns é pouco, mas eu já acho o fim – faço Yoga, tomei Roacutan – me submetendo a efeitos colaterais como tumores intracranianos – para um indivíduo (lindo) dizer que a nuca é o que mais chama a sua atenção!? Piada! Como diria minha amiga Flavinha, esse mundo está cada vez mais louco. Certamente, descer não seria a melhor opção pra ninguém.
Talvez, as pessoas devessem dar mais valor ao potencial de suas nucas... E olha que não seria nada vulgar. Enquanto umas expõem a bunda, outras os seios, e há ainda aquelas que andam sem calcinha, nós exporíamos nossas nucas.
Seria uma verdadeira revolução. Surgiriam os teóricos que, assim como os estudiosos que têm por objeto a bundalização da sociedade, tomariam a NUCANIZAÇÃO como uma forma de expressão e tentativa legítima de obter sucesso na vida. Seja ele no âmbito amoroso, social ou, ainda, profissional.
E isso tudo movimentaria um mercado muito grande. Aqueceria a economia. Nós brasileiros, que somos referência mundial no campo da cirurgia plástica, criaríamos algum procedimento para melhorar a aparência dessa parte do corpo. Revistas masculinas, femininas e gays, ao invés de mostrarem o órgão sexual, explicitariam com toda a ausência de pudor uma bela nuca. Eu só aceitaria expor a minha por mais de 1 milhão. De Verdinhas, claro. Tá pensando que minha nuca é pra qualquer um ver!? Pêra aêêêêê... Eu mostraria minha nuca sim, mas seria algo estritamente profissional: assimilaria algumas técnicas teatrais, pensaria numa personagem e estaria pronto pro ensaio fotográfico. De repente, até tomaria um pró-seco pra relaxar.
Loucura!? Talvez. Pelo menos eu teria mais tempo para ir à praia e ouvir conversas que me inspirassem à escrita. E, ainda, bronzearia minha linda nuca.