quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Abaixo a bunda

Mamãe sempre me ensinou a não ouvir as conversas alheias, mas, como adoro fazer isso - particularmente na praia - não resisti. Dias desses estava em Ipanema, no trecho em frente à Farme – reduto gay carioca – e ouvi afirmações do tipo: “Eu tenho medo de chegar”, “Eu também. Quando estou muito afim, eu tremo e gaguejo...” Eram três homens, de diferentes idades. Ambos eram bonitos e interessantes, ao seu modo, de acordo com a sua idade. E inteligentes também, coisa difícil de se ver por aí. Conversavam sobre seus medos e questionamentos.
Em uma coisa os três concordavam: ninguém ficava com outrem apenas por beleza física. Diziam querer mais. Um deles se arriscou em uma estimativa: “70% da beleza de uma pessoa se deve à sua simpatia e atitude”. Um outro dizia que por mais que beltrano fosse lindo, ele não tinha uma nuca bonita. Sim, NUCA, a parte de trás do pescoço. Eu gasto, em média, uma hora e meia na academia – para alguns é pouco, mas eu já acho o fim – faço Yoga, tomei Roacutan – me submetendo a efeitos colaterais como tumores intracranianos – para um indivíduo (lindo) dizer que a nuca é o que mais chama a sua atenção!? Piada! Como diria minha amiga Flavinha, esse mundo está cada vez mais louco. Certamente, descer não seria a melhor opção pra ninguém.
Talvez, as pessoas devessem dar mais valor ao potencial de suas nucas... E olha que não seria nada vulgar. Enquanto umas expõem a bunda, outras os seios, e há ainda aquelas que andam sem calcinha, nós exporíamos nossas nucas.
Seria uma verdadeira revolução. Surgiriam os teóricos que, assim como os estudiosos que têm por objeto a bundalização da sociedade, tomariam a NUCANIZAÇÃO como uma forma de expressão e tentativa legítima de obter sucesso na vida. Seja ele no âmbito amoroso, social ou, ainda, profissional.
E isso tudo movimentaria um mercado muito grande. Aqueceria a economia. Nós brasileiros, que somos referência mundial no campo da cirurgia plástica, criaríamos algum procedimento para melhorar a aparência dessa parte do corpo. Revistas masculinas, femininas e gays, ao invés de mostrarem o órgão sexual, explicitariam com toda a ausência de pudor uma bela nuca. Eu só aceitaria expor a minha por mais de 1 milhão. De Verdinhas, claro. Tá pensando que minha nuca é pra qualquer um ver!? Pêra aêêêêê... Eu mostraria minha nuca sim, mas seria algo estritamente profissional: assimilaria algumas técnicas teatrais, pensaria numa personagem e estaria pronto pro ensaio fotográfico. De repente, até tomaria um pró-seco pra relaxar.
Loucura!? Talvez. Pelo menos eu teria mais tempo para ir à praia e ouvir conversas que me inspirassem à escrita. E, ainda, bronzearia minha linda nuca.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A arte de (Não) saber como fazer amigos

Fazer amigos sempre foi um mistério pra mim. Não que não os tenha, pelo contrário, mas o fato é que nunca sei como me torno amiga deles. Quando me dou conta, lá estão eles, andando comigo pra cima e pra baixo, me confidenciando coisas e vice-versa, deixando saudades. Ao mesmo tempo em que acho isso interessante, já que podemos perceber que as minhas amizades são processos absolutamente espontâneos, existe um mero detalhe: não sei fazer amigos por interesse.
Aquilo que tem tudo para ser uma virtude, pode se tornar um problema em determinadas situações. Venho tentando ser sociável e simpática na maior parte do tempo, pois quero conhecer pessoas novas. Até agora, nada tem dado certo. Continuo fazendo a linha não se aproxime. Os professores dizem que sou séria demais, aqueles que não me conhecem, que sou tímida – mal sabem eles. Basta uma festa, e pronto, virei fofoca! Sabe aquela menina, a Flávia? Aquela quietinha, super calada, com cara de santa...tava parecendo uma louca naquela festa...como pode, né? Comigo sempre foi assim, minhas amigas que o digam. Sou rotulada de santa, sabe-se lá porque. Há quem diga que sou tranqüila, que não me incomodo com as coisas. Ah, poucos aqueles que me conhecem, de fato!
Falando em ser sociável, ando muito confusa.
Não sei mais quando incomodo em uma roda de conversa. Outro dia encontrei uma amiga e um conhecido conversando. Pessoa sociável que sou, me juntei a eles na conversa. Mais tarde, fiquei sabendo que estava atrapalhando alguma coisa. Eu, em minha concepção inocente, pensei que, uma vez que o indivíduo tivesse namorada, não estaria atrapalhando nada – besteira minha! Hoje em dia, não sabemos de mais nada. Relacionamentos não significam mais impedimento de ficar com outras pessoas, a lógica tradicional homem e mulher já se foi há muito tempo. Relacionamento a dois então? Não necessariamente! Às vezes, você se junta a um trio pra conversar, e está atrapalhando os planos futuros deles.
Não sei muito bem como cheguei a esse imenso parênteses no meio de meu texto sobre amizade. Talvez haja algo de pós-moderno, de desconstrução por aqui, influências de Rose Marie talvez. Não que eu queira competir com seu belíssimo texto, obviamente, até porque são estilos diferentes. Enfim, a pós-modernidade é legal, mas dificulta minha vida. Tento driblar o individualismo, a vontade de ouvir o meu ipod e esquecer do mundo, tento parecer sociável. Eis que, quando menos se espera, estou segurando vela! Ah, esse mundo está muito complicado...
Gente...pára o mundo que eu quero descer!

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Andam falando por aí do homem contemporâneo. Ninguém me entrevistou. Deus está morto, eu concordo. Freud também. O Estado. A filosofia. Dizem da fragmentação do eu, deixem eu me apresentar. Geminiana, terceiro decanato, nascida antes da constituição de 88 e depois do surgimento da Xuxa.

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Não conheci o Lamarca, não quis o fim da ditadura. Não pintei a cara, não comprei nenhum manifesto antropofágico. Compro cds pirata, baixo discografias completas na internet. Vejo graffitis nas ruas e já distinguo o traço de alguns artistas. Não uso brincos nem pulseiras, meu celular custou 50 reais. No ônibus, só sento na cadeira do corredor, escondo dinheiro no meu sutiã. Ando rápido pelas ruas do Centro, vou à Lapa suja fingir que comemoro a boêmia do carioca, como num podrão temerosa do mundo invisível dos organismos, jogo latinha na rua, bondade com o catador.

Ouço defenderem pena de morte pra arrastadores de crianças pelas ruas da cidade, vejo bandidos políticos reeleitos. O sistema partidário é que é o problema. Lan Houses em favelas, pescoços de crianças com cartões magnetizados pendurados. Motoristas de ônibus não param no ponto e sorriem do poder que têm. Os ricos fazem yoga, análise e pilates. Os pobres fazem churrasco no bar da esquina e compram tvs de plasma em 50 vezes.

Na cadeira da faculdade, vejo falarem sobre mim e meu tempo. Só desconstrução, foi só isso que aprendi. Minha religião é fruto do positivismo europeu do século XIX, racional até o cú. Jesus ninguém sabe se existiu ou se fez o que seus não-contemporâneos evangelistas disseram. Nosso Estado se sustenta da despolitização. Nossas leis feitas pela Coca-Cola, Usineiros de Alagoas S/A, Latifundiários do Pará não são sequer o que estão escritas. Depende do humor do juiz, da linha filosófica que ele, do tempo em que se tinha uma, segue.

Todos são corruptíveis e tentar não ser pode jogar-me fora do sistema. Sou brasileira. Estou presa na rede relacional que passa pessoas na minha frente na fila da boate, estudantes menos competentes ganham as vagas de estágio a que concorro, tenho aula com professores cretinos que cagam para ensinar. Preciso bajular. Se me indigno, sou mal amada. Quero acreditar que posso mudar alguma coisa, mas a força da cultura, mantedora, me oprime. O Renan Calheiros acaba de ser absolvido. Minha amiga, advogada, me conta de uma desempregada presa por roubar uma lata de leite. Jornalistas trocam palavras para que caibam no espaço de um título 3x52, trabalham 12 horas por dia, ganham 2 mil reais por mês.

Peguei onda hoje cedo. Chorei dentro do mar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Passageiros...

Às vezes penso ser a vida um eterno fluxo constante de transeuntes. Como numa rua. Ou, como canta Maria Rita, como uma estação de trem, onde ora nos despedimos, ora acolhemos. A vida é estranha. Estranha tipo... Estranha mesmo. Nem tipo a Arrasa, nem tipo o Júlio (interna). Não conseguimos manter/acumular nada do princípio ao seu fim. É assim com conhecimento, dinheiro – esse então, consumista que sou, ta difícil de acumular – outras um milhão de coisas e pessoas. Por mais que gostemos da companhia, da amizade de alguém, é (parece ser) impossível mantê-la em nosso convívio até o fim de nossos dias. São poucas as pessoas as quais acredito, fielmente, estarem presentes até a minha terceira idade – se viver até lá.

Confesso que ao longo desses 22 anos já vi – e vejo agora – uma galera saindo e outra galera entrando em minha vida. Movimento esse constante e simultâneo. Me deparei, pela primeira vez, com essa “dinâmica”de população aos dez anos, quando, por força maior, mudei de cidade. Troquei de escola, vizinhos, amigos. Na mesma medida em que eles trocaram de mim. Na transição do ensino fundamental para o médio e do médio para a graduação foram outras trocas de círculo. A própria vida nos apresenta situações onde a “renovação” de pessoas parece ser inevitável. E de cada troca, poucos restaram. Pouquíssimos.

Pessoas que, antes, juravam amor eterno se restringem, hoje, às fotografias ou aos números de perfis adicionados no orkut. As pessoas não são substituíveis. Não é isso. Mas a verdade é que elas, também, não são acumulativas. É impossível despender tempo e atenção a todos: família, colegas de trabalho, amigos – de infância, os da vida, os de night, os da escola, os amigos de amigos. Não podemos esquecer dos inimigos. Esses são muito importantes.


Essa questão – vida, estação, fluxo, passagem - merece o texto agora lido devido a uma situação recente: um grande amigo, meu atual best friend (remetendo a minha necessidade de classificar pessoas), disse ter ingressado no Hare Krishna, ou ter aderido ao – ainda não sei como lidar gramaticalmente, e muito menos na convivência diária, com a questão. A princípio tudo me pareceu muito interessante. Aprenderia algo novo, e diferente da formação cristã que recebi. Uhuuuuuull. O novo me fascina. Porém, quando soube que, na prática, a coisa fugiria – e muito - do que, até então, eu estava acostumado, revelando uma nova personalidade – muito mais zen – do amigo em questão: choque. E medo também.

Seria ele mais uma pessoa a cumprir esse papel, transeunte em minha vida? Ou isso nos aproximaria, tendo em mente que os momentos de convívio seriam outros, e não mais as efêmeras baladas e jogações? Abre parênteses(não que eu ache que nossa amizade se resuma a isso. Ele é muito completo para participar apenas desses momentos) fecha parênteses. A resposta: não sei. O fato é que ultimamente tenho me distanciado de outras pessoas que não entraram para nenhuma religião ou abraçaram causas que redefinissem suas posturas. São pessoas que tinham tudo para estar mais próximas de mim – círculo social, ambientes comuns, ideais semelhantes – e, no entanto, tornam-se cada vez menos íntimas. Desconforto. É triste olhar com estranheza quem, um dia, partilhou de intimidade. Em contrapartida, me aproximo de quem está longe. Esteja em outro estado ou outro país, a lembrança vira sinônimo de saudade. Louco isso, né?!

Talvez esteja nessa masturbação mental à toa - Será que vai ser mais um? Menos um? Encontro? Despedida? - Chega. Não quero pensar. Já está tarde, são quase três da manhã, e o sono vem. Mas o mal estar em ser deixado ou deixar, perpetuando essa dinâmica de passagem, permanece. Cansei de teorizar
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