quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Teorias insanas de um louco consciente

Por FELIPE ZERVELIS
Estou aqui, numa forma não mais do que DESESPERADA de provar minha imensa insanidade, agora fora do meu grupo de amigos que ignoram cada minúcia de minha teoria. O fato é o seguinte: Creio poder influenciar cada movimento que acontece na Terra. Como seria possível um ser tão INSIGNIFICANTE como eu exercer tamanho poder sobre os grandes acontecimentos que são manchetes em nossos jornais no dia a dia ? Seria possível eu ter contribuído para a queda dos últimos aviões ? Ou melhor, seria realmente aceitável o fato de você estar lendo isso influenciar a hora que você irá escovar seus dentes ? Pronto. Agora você tem a certeza de que eu sou doido mesmo, assim como todos acham. Eu só vou tentar me explicar por pura e completa teimosia. Vou usar meu próprio texto como exemplo do que estou tentando “provar”... Ao ler esse texto, supõe-se que você estará perdendo uns 5 minutos do seu dia. Possivelmente você irá sair do computador num SEGUNDO (falar milésimo seria forçar a barra) diferente do qual sairia caso não estivesse lendo esse texto. Se concordar, prossiga. Caso contrário, agradeço muito por você ter perdido seu tempo até aqui.

Todos os seus movimentos a partir desse estarão comprometidos pelo movimento inicial. O momento em que você vai botar a mão na maçaneta para abrir a porta. O momento em que o elevador chega. Enfim... Você pode acabar parado num sinal de trânsito que antes não iria parar. Mas PERAI. Supondo mais uma vez que você é o primeiro da fila... O carro de trás quem sabe poderia ter sido o primeiro se você não estivesse lendo isso aqui. Aff... Só que o motorista do carro de trás ao invés de focar o campo de visão num pedestre atravessando a rua, por exemplo, acaba olhando o seu carro. Isso acaba por fazê-lo desviar o pensamento por um segundo. Quem sabe buzinar, ou até acelerar o carro num segundo diferente e pegar algum outro sinal que não deveria ter pego, fazendo ele chegar no trabalho uns 5 minutos depois.

Vamos esquecer que você EXISTE. Estou agora destacando o cara do carro de trás. Esse cara chega ao trabalho em outro momento, cumprimenta a secretária no momento em que ela ia fazer uma ligação pra Escócia. Isso desvia o pensamento da secretária e o seu campo de reação mesmo que por alguns poucos milésimos. Ela pode não falar as mesmas palavras no mesmo segundo. PRONTO. Você mudou inclusive o destino da Escócia por estar lendo (ou ter lido) esse simples e desprezível rascunho de maluco a partir do momento em que a secretária muda seus gestos ao fazer a ligação. Se não existisse telefone ou outro meio de comunicação moderno, o efeito seria também inovador, contudo a velocidade não seria tamanha.

Esqueça agora que o cara do carro de trás existe. A secretária vai chegar em casa num segundo diferente ao que iria chegar se você não a tivesse cumprimentado naquele momento. Quer porque pegou um sinal fechado, quer porque resolveu parar numa banca de jornal porque deu vontade. Naquele dia o maridão tava empolvoroso e eles foram dar umazinha. PRONTO. Ela engravidou. Mas você acha que sua leitura inicial a esse texto não tem nada a ver com isso? Óbvio que tem. Ou você acha que naquela fecundação, o espermatozóide vencedor não foi outro? O segundo foi único. Você ajudou também a formar aquela face que irá um dia precisar de fraldas. Isso quebra a teoria do XY +XX = XX (sexo feminino) ou XY (sexo masculino)... A partir de agora o indivíduo Z também faz parte. Logo, XY+XX+Z = XX ou XY. (Perdoem –me os que não se encontram em nenhum dos casos). Agora elevem tudo isso que você leu aqui a terceira potência. Aliás, a décima. Tudo está interligado e tudo influencia o meio que o cerca. Obviamente, se você está agora dormindo em casa você não está influenciando diretamente NESSE MOMENTO o casal que está na República Tcheca comprando leite num supermercado. Você já o fez. E sinceramente, aos que acreditam em destino eu só posso respeitar. Mas se tudo isso aqui fosse traçado, qual seria a verdadeira graça ? Ou melhor, quem traçou o caminho da bandidagem e da infelicidade? Aos que não acreditam em ambos e preferem não pensar em nada, só posso dar graças a Deus. Você é bem mais normal que eu.
[Felipe Zervelis é leitor do blog]

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

anotações da aula de psicanálise

Estou fazendo esse período uma matéria chamada Cinema e Psicanálise que tem me feito pensar em muitas coisas. Entre elas, como a psicanálise é uma religião. Um dia desses a professora, uma mulher interessantíssima, exemplo de como envelhecer bem, verbalizou minhas dúvidas: -Freud é meu pastor e nada me faltará. Falou em sala, juro.

Estou grávida, como alguns já sabem. Volta e meia fico pensando nas coisas que minha filha anda ouvindo na faculdade. Divido com vocês algumas anotações (e meus pensamentos) da aula de psicanálise:


Nossa idéia de realidade vem da dinâmica da construção do nosso EU pelo outro (desde, PRINCIPALMENTE, a infância).

[Também acho, estamos o tempo inteiro nos enxergando pelo olhar dos outros. Ninguém é ‘alguma coisa’ por si só, mas no olhar do outro. Se afirmar faz parte, todos estamos tentando nos construir apoiados nas opiniões dos outros. Agora, vamos escolher ‘espelhos’ melhorzinhos, né?! Por que tem umas opiniões andando por aí que ninguém merece.]

Angústia de Freud: por que não paramos de representar, pensar? Por que nem no sono cessamos/saímos do mundo da linguagem? Aonde queremos chegar?
[Pode crer, que loucura.]

Passamos a vida inteira ‘falando’ para tentar preencher o vazio da falta de sentido da vida.

[Cara, genial. E falar aí no sentido de todas as produções, inclusive artísticas. Se a gente não inventar o sentido da vida, bicho, ela não tem. Por isso eu ando super a favor das religiões, eu tive uma fase revolt, marxista, mas voltei. Vamos inventar sim o sentido da vida, qual o problema das invenções e artificialidades?]

Desde cedo aprendemos que é impossível ter satisfação plena. (Complexo de Édipo). O útero é o paraíso perdido, nossa única experiência de ausência de desejo. Na “sociedade freudiana” os indivíduos sabem lidar com essa ‘falta’, inerente ao ser humano. É essa falta que movimenta nossa sociedade e constrói a civilização.

[Nessas horas eu penso na bebê. Mas também acho essa parte do Freud a mais religiosa de todas. Ele é que pensa que o ser humano tem a consciência da ausência de desejo no útero, quero ver provar. Mas concordo: não existe satisfação plena. Não acho que seja motivo para se acomodar nos desgostos, mas a pirada busca por satisfação full time é ilusão da fuderosa. Precisamos de limites, de castrações para viver em sociedade. Não quer, chora nenêm, se enfia no mato, mas sozinho, porque se juntar mais 3 revoltados vira comunidade hippie e daí as regras (mesmo que piradas) voltam.]

Pensadores contemporâneos consideram nossa época marcada pela “falta de pai”, ou seja, ausência da Lei, sociedade que promete o gozo pleno, discurso contraditório à lógica da castração: “Se você se esforçar, o gozo pleno é possível”. Consumo como sentido da vida. Discurso pós-moderno: não fica-se triste, mas deprimido. Depressão cura-se com remédio.

[Estou fazendo minha pesquisa sobre consumo e minhas leituras até agora foram ótimas. Esse mundo de comercial de margarina, as promessas da publicidade, esse discurso entra nas nossas veias e a gente fica achando que é possível a família perfeita, o sorriso perfeito, a namorada perfeita. Onde foi parar a melancolia? Por que parece tão insuportável ficar triste? Eu sou a favor da tristeza, que isso, curtir uma fossa é lindo. Curtir uma, e não cair de vez.]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Nike, Adidas, Puma... Qual é a sua?




Mamãe sempre me diz uma coisa, “para você saber se uma pessoa é caprichosa, olhe seus sapatos, se eles estiverem limpos, ponto positivo”. Eu concordo e vou além. Para mim, calçados podem mostrar QUEM uma pessoa é. Com base em observação participativa, faço algumas considerações dentre os usuários de algumas marcas – algumas, visto que este texto não se propõe conclusivo e, portanto, abrangente.

Sendo assim, temos:
Nike: por ser uma marca que todo mundo usa, não tem uma identidade, transitando, assim, entre vários – muitos - grupos. A pessoa deve ser vista sob suspeita. Se estiver usando um Nike Shox então! A melhor saída é olhar para o todo, para o look. Eu o vejo nos pés de pessoas completamente over – brega mesmo – e em outras que têm um estilo definido, que participam de um determinado grupo(hip hopers, amantes do axé, patys, playboys). Esse é um tênis muito confuso...


Reef: o queridinho dos skater boys. Embora eu veja alguns não-pertencentes à tribo utilizando-se do calçado, em sua maioria, seus usuários são compostos por skatistas, surfistas e afins.


Adidas: Geralmente, seus usuários têm um estilo definido, são, o que poderíamos chamar de, estilosos – por ser um dos meus preferidos, designo seus usuários assim. Ou você, caro leitor, acreditava que eu seria imparcial nesse humilde veículo de comunicação? – Existem aquele adidas basicão (branco com listras azuis) que todo mundo tem – menos eu – e os mais “estilosos”, em cores fortes ou bordados, o que reflete uma certa personalidade por parte de seu calçador.


Puma: A meu ver seria parecido com o Adidas. Além de estilo, transmite um certo status, visto que seus modelitos são carinhos. O público-alvo é parecido.


Diesel: Também têm estilo, mas seus pisantes são MUITO caros. Se teu orçamento não permite, ou se você não tem um amigo que more no exterior – mesmo que ilegal – desista deles. Geralmente, por sua linha não ser tão teen, calçam os profissionais em ascensão, ou os já estabilizados. Para quem procura fazer um bom casamento, o acessório pode servir de termômetro.


All Star: como acredita Flavinha, esse calçado seria destinado ao novo – e confuso -segmento que se apresenta: os alternativos. Já ouvi esse termo designando vários grupos, como os sambistas freqüentadores da Lapa, os rockeiros indies, os emos... É muita informação. Ele pode ser sim dos rockeiros indies, dos emos, e dos sambistas também. Mas, diferente do nike, convenhamos: seus usuários têm o que poderíamos chamar de atitude. É preciso um certo carão. Afinal, não é qualquer um que consiga sustentar um all star. E quanto mais distante do pretinho básico ou do bege visto com as patys, mais estilo ele emprega ao usuário.


E nessa minha tipificação nem citei os ultrapassados sapatos camurçados-com-cadarço que estiveram na moda há uns 6 anos. Usar um desses é atestado de breguice. O mesmo vale para os sapatos cor de mostarda ou marrom quando combinados com jeans e t-shirt.


O pior é que, quando você acha que conseguiu definir tipos, estando imune aos possíveis enganos que a vida nos reserva, vem as havaianas e fodem com tudo. Patys, playboys, emos, sambistas da lapa, gays, indies e mais outras dezenas de segmentos usam as famosas sandálias. E isso independente de classe social, raça ou credo. É bem como diria o slogan, “havaianas - todo mundo usa”.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Listrinhas na BaRoNeTTi

6:30 da manhã. Estava eu no ponto de ônibus quando, em meio ao meu marasmo de sono, percebo que um cara não tira os olhos de mim. Olho para os lados, olho para trás, não há ninguém atrás de mim. Não, eu não tenho problemas de auto-estima, nem nada do tipo. Mas cara, eram SEIS E MEIA DA MANHÃ, e um cara com um estilo digamos, diferente do meu, estava me paquerando?!? Não, eu não sou preconceituosa ou algo do tipo, mas, cá entre nós, todos analisamos as pessoas pelas roupas que vestem. “Moda é o cérebro por fora”, já dizia a frase genial de Maurício Azevedo. O que estou tentando dizer é que, por mais displicentes que possamos ser no ato de escolher o que vestir, sempre queremos dizer algo.
Existe uma clara identificação visual entre grupos.
As patricinhas, os playboys, os (acredito que) extintos mauricinhos, os cults, pseudo cults, alternativos em geral, punks, minimalistas...Enfim, o fato é que sempre reconhecemos membros de determinado grupo pelo modo de se vestir. O curioso é que muita gente não é fiel a esse tipo de código de vestimenta social, e acaba transitando entre diversos estilos. Eu sou uma dessas pessoas. Desse modo, acabo causando alguns mal entendidos, como foi o caso desse dia no ponto de ônibus.
Bem, o referido menino entrou num ônibus e eu continuei, intrigada, pensando o que esse cara teria visto em mim. O cara usava bermudão jeans, all star, casaco enorme, típico alternativo/casa da matriz, eu diria. Mas então, que graça teria ele visto em mim? O fato era que eu vestia uma blusa listrada, que havia comprado apenas porque as listrinhas em rosa me pareceram bonitinhas. Foi então quando me lembrei do comentário de uma amiga minha, sobre camisas listradas estarem na moda entre os alternativos. Ela havia conhecido um cara com uma camisa dessas e ele freqüentava a matriz. Tenho um amigo que freqüenta também e tem varias camisas assim. Embora tenha comprado por um motivo diferente, eu estava usando a maldita(ou seria bendita?) camisa listrada! Depois de me lembrar desse fato e tirar essas conclusões, a primeira pergunta que veio em minha mente foi a seguinte: mas gente, eu não to nem usando meu all star hoje! Eu,curiosamente, usava um nike shox rosa. Nada mais patty. No entanto, o impacto visual da blusa de listrinha foi maior.
Agora, você deve estar pensando que vou abandonar minha lista blusa de listrinhas, né? Pensou errado. Achei divertida essa história de brincar com estilos e de me fazer passar por “membro”de grupos diferentes. Ao invés de deixar a minha querida blusa de lado, vou continuar usando. Falando nisso, qualquer dia desses, vou com ela pra Baronetti. Divertido, vai ser, pelo menos eu serei uma, no máximo duas, com blusinha listrada, num universo de patricinhas e playboyzinhos. Quem sabe não encontro um guitarrista de cabelos desgrenhados perdido por lá?

sábado, 6 de outubro de 2007

Filosofia de botequim

Alguns posts atrás o Zé falou de máscaras e acho que é uma questão pra todos nós. Todos os dias a gente se pergunta: o que estou fazendo aqui? Tem lugar melhor pra se estar? Eu sou essa coisa que está parecendo que eu sou? E é impressionante, mas ninguém vem respondê-las. Quando somos crianças, não existem perguntas sem resposta. Crescer dói.

Estou metida a profunda e atrasadíssima com meu post, deixo uma poesia.


Todos os gatos são pardos

Estou em meio a meus inimigos
Camuflada
Bebendo o que me mata.
Sou gata
Travestida de cadela
Dançando na festa do canil.
Estou no local errado,
Na hora errada,
Com a roupa certa e mentirosa
Pra me camuflar.

E caso eu me esqueça do porque vim
Me lembre
A jornada é longa e perene
E compromissos de fé assinados
Às vezes se perdem.

Talvez seja eu a cadela
Travestida de gata travestida de cachorra
Ou não, quem há de saber?!
Absolutamente tudo está errado,
Ou não, minto,
Ainda há certezas, ralas, admito,
E muito o que consertar.