sábado, 22 de março de 2008

Queridos Amigos

"O duro da passagem do tempo não é a gente envelhecer, é perder quem a gente gosta. Eu chego nos lugares e as pessoas não estão mais lá. Parece que o mundo vai morrer diante de mim". *
* Discurso de uma personagem da minissérie Queridos Amigos.

Eu fui obrigado a conhecer a morte muito cedo. Meu pai faleceu quando eu tinha apenas dez anos. De alguma forma o fato faz diferença no meu modo de viver, sobretudo no que se refere a pessoas. Não da forma negativa, como o medo de me entregar a sentimentos e experimentar emoções. Pelo contrário: vivo o mais intensamente possível. Passional, em síntese. Característica essa agravada por minha condição ariana.

Essa semana, fui surpreendido por uma noticia. Previsível. Uma amiga de minha mãe faleceu. As duas eram amigas há quase 43 anos. Espero, um dia, olhar para trás e reconhecer ao meu lado pessoas com igual tempo de cumplicidade. Não que o tempo se faça necessário na mensuração da importância de alguém. Longe disso. O acúmulo de anos se torna grandioso pelo fato de conviver tanto tempo, respeitando as particularidades do outro – tarefa árdua.

Diante dessa única certeza humana, tudo se torna menor. Orgulho, egoísmo, preconceito e tantos outros – maus - sentimentos tornam-se pequenos diante da certeza de morte. A vida, juntamente com nossa imperfeição, ganha um tom de efemeridade. Ao pensarmos num deadline, para todos, abandonamos nossa condição heróica e nos humanizamos. Todos estamos fadados ao mesmo fim – ou início.

Confesso ter, ainda, dificuldades para funerais. Geralmente, não marco presença nessas cerimônias. Mesmo assim, vejo o quanto tenho aprendido a lidar com este fato inevitável. Penso-o como uma passagem. Olhando para ela como a única certeza da condição humana, sinto-me, estranhamente, confortado. Mas pra que me prender a isso, se vamos morrer mesmo”. Os detalhes são apenas detalhes. E o ato de existir, a experiência de viver, apaga qualquer expectativa frustrada, seja com outro, seja consigo mesmo. Curiosamente, nesse instante, quando não espera-se por nada, a vida ganha mais cor. A liberdade de viver sem compromisso deixa a coisa mais solta. Na teoria, isso é muito positivo. Na prática, confesso, tenho tentado.

2 comentários:

P.B. disse...

Já tinha lido o seu post antes mesmo da propaganda gratuita lá no meu blog.
Gostei muito, Zé. É sempre difícil lidar com as perdas, que, por mais previsíveis que sejam, são sempre inesperadas... A morte é a única certeza para o homem, sobretudo nessa louca pós-modernidade.
Beijos!

Flávia Feijó disse...

Nunca tive medo de morrer, mas um dos grandes medos da minha vida é perder as pessoas que amo, sobretudo se não tiver chance de dizer tudo que gostaria a elas.
Lindo texto, querido.