segunda-feira, 27 de agosto de 2007

iPod no ouvido e óculos escuros no bloco do eu sozinho

Cultura do iPod. Cada um com o seu. Interagir pra quê? Óculos escuros: não me olhe, não perca seu tempo comigo. Às vezes, ainda existe um terceiro elemento: um livro ou algum tipo de leitura. A questão é: até que ponto esse tipo de postura não leva a um comportamento anti-social?
Ninguém precisa estar lindo, bem-humorado e disposto a conversar todo momento
, verdade. No entanto, não seria mais fácil estar sempre ausente, dentro de uma própria bolha, e não perder tempo falando com quem a gente não conhece? É fácil falar que não precisamos de novos amigos, que somos felizes com nosso circulo de amizades, mas a interação faz parte da natureza humana. Sobretudo com indivíduos diferentes. Pessoas normais cansam. Pessoas de sempre também.
Não estou aqui para pregar amizades instantâneas, efêmeras, tipo de night. Apenas tento dizer que é preciso manter mais de um grupo de amigos, sobretudo porque isso nos possibilita novos assuntos, diferentes perspectivas, outra postura. Às vezes é bom usar nossas máscaras, tirá-las de dentro do armário.
A alternância de comportamento é perfeitamente normal. Temos amigos com quem falamos mais, somos mais despojados, usamos palavrões e até falamos de putaria. Por que não? Enquanto diante de outros, somos mais recatados, passamos para a posição de ouvintes, adotamos uma postura mais serena e optamos por programas mais tranqüilos. Também não estou aqui para atacar os iPods e muito menos o uso de óculos escuros. Sobretudo porque sou adepta de ambos. Bem, vou explicar o motivo do meu texto...
Dia desses, encontrei um conhecido no elevador, e fiquei impossibilitada de conversar com ele porque o referido indivíduo estava ouvindo seu mp3 a toda altura e jamais ouviria qualquer coisa que eu lhe dissesse. E assim ocorre sucessivamente: ora somos vítimas, ora agentes da ação. Da mesma maneira que eu vivia isolada com meu iPod – inclusive em um outro momento em que nos encontramos – dessa vez, eu estava do outro lado, era a vitima. Percebi como era desagradável aquela situação.
Não proponho aqui nenhum tipo de movimento contra iPod ou óculos escuros. Gostaria apenas de levantar uma discussão acerca do assunto. Apatia às vezes é bom, mas até que ponto?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Pequeno rosário de nossa cruel sociedade : não pode cagar no banheiro



Alguém precisa consertar essa fechadura. É só trazer uma chavezinha de fenda e crec crec, pronto. Eu já odeio fazer xixi segurando porta, é um inferno. Imagina cagar. Falando nisso, fazer cocô é muito bom. Os gays, quem diria, eles só existem porque a natureza resolveu premiar a excreção. Bela merda. Meu Deus, sabe uma chave de fenda? Da lojinha de 1,99? É só isso, comprou, veio aqui, aparafusou. Mais nada, isso aqui parece repartição pública. Odeio prisão de ventre. E o pior, sempre que eu tô com prisão de ventre eu lembro do meu ex-namorado. Ele era um desses que não caga fora de casa. Olha onde eu me meto. Ele dizia que para o cocô descer tem que sentar na privada com postura ereta, pra desobstruir o intestino. Que gênio. Putz. Odeio estar cagando quando alguém entra no banheiro. Agora é que vai me travar mesmo. Porra, vai dar pra sentir o cheiro, não vou sair daqui até que ela saia. Gente, que saco, que pressão social. Eu sei que cagar no trabalho não é visto com bons olhos, mas onde mais eu vou fazer isso? É a finalidade do banheiro, merda. Agora tenho que ficar aqui, como se fosse uma criminosa, me escondendo. Vou demorar a voltar pra sala, daí todo mundo vai desconfiar que eu tava cagando. Neeeé...paranóia. Vão nada. Ô filha, finalmente, descarguinha, bença e tchau. Adoro mulheres objetivas, sabe? Nãããooo, outra no banheiro. Que saco. A que acabou de sair já manjou que tem alguém cagando, agora vai falar pra outra. Mulher é foda, adoram fofoca, eu sei. Poxa, acho que vai sair, finalmente. Mas e se fizer barulho quando cair na água? Eu odeio esse ploct. Não sou moralista, mas é foda, pega mal, não vou fingir que não pega, porque pega. Maldita sociedade. Vou chegar pra pontinha do vaso, daí a merda cai na louça e não na pocinha de água. É o jeito. Ereta, empina o peito, garota. O teto daqui tá precisando de uma vassourada, isso aqui tá parecendo banheiro da Lapa. Ai, putz, cagar é muito bom. É um bom conselho, cagar na posição ereta. Não vou nem lavar a mão, vou vazar, dar descarga, a fulana ainda nem puxou o papel higiênico, deve estar cagando também, nem sei se o meu coco sujou o vaso, nem quero ver. E que os deuses do Olimpo me ajudem a sair linda, ilesa e irreconhecível.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Já vou avisando: preocupe-se com as entrelinhas

Dia desses fiquei alguns bons minutos para escrever um email. Confesso que pedi a opinião da Flavinha. Analisei. Reescrevi-o. E, depois de algum tempo debruçado sobre aquele objeto de grande potencial, enviei. Isso porque acredito fielmente no subtexto, nas entrelinhas, no que está subentendido. Abre parênteses( a Flavinha também acredita, agora mesmo enquanto escrevo este humilde texto, recebo via MSN um scrap, de outrem, enviado por ela para minha análise)fecha parênteses. Se pretendemos dizer “oi, tô escrevendo para você lembrar de minha existência” podemos escrever isso de uma forma mais sutil, mais implícita, daí a importância de utilizarmos subtexto. E, segundo as regras sócio-culturais de relacionamento, não podemos nos expressar da forma que queremos. Hipocrisia. Somos obrigados a dizer uma coisa, quando na verdade gostaríamos de transmitir outra. Pois então... Não é que a resposta para o tal email se resumia a um “oba!”. Broxante.

O problema do subtexto está em, muitas vezes, super-estimarmos a capacidade cognitiva do interlocutor. Eu faço isso. A merda é que, por vezes, ele nem sabe o que é isso – e muito menos não faz idéia do tempo gasto para escrever a mensagem a ele direcionada. Eu acredito nessas coisas, tipo “o corpo fala”, “o poder da persuasão” e blá blá blá. Mas não seriam essas crenças exclusivas do povo da comunicação, letras e artes? Por terem, teoricamente, maior sensibilidade. Talvez!

O fato é que, baseado em análises de caso, concluo:

Atores: geralmente entendem o recado. Vira-e-mexe até retribuem na mesma altura. Essa troca de informação, com eles, é interessante.
Economistas: demoram a pegar no tranco, mas quando entendem o recado, entram no jogo. Mesmo tendo uma certa simpatia pelos números e, conseqüentemente, dificuldades com a escrita, são bons interpretadores – e o melhor, acham suas “mensagens” um máximo e colocam sua auto-estima lá em cima.
Médicos: esses são os piores. Você escreve mil caracteres de texto e, talvez por uma boa capacidade de síntese, respondem basicamente em uma linha. E não entendem o recado, a mensagem a ser transmitida. Nunca. É terrível. Com esse tipo, o melhor a fazer é desenhar.
Jornalistas/povo da comunicação(publicitários, cineastas, marketeiros): por serem sábios e dominarem a escrita – momento egocêntrico – utilizam, manipulam - a melhor definição - a mensagem a seu favor. Entendem o que querem, quando querem, segundo a sua vontade. É uma delícia trocar emails, scraps, sms ou qualquer coisa do tipo com eles. A coisa flui.

Continuo acreditando nas minhas teorias ditas anteriormente. Acreditarei sempre. Mas vale uma dica: antes de eu perder o meu precioso tempo pensando no subtexto, penso no interlocutor. Experimento algum subtexto na mensagem uma ou duas vezes. Se não causa efeito, o jeito é ser mais direto. Como estou numa fase sem filtros e, portanto, não me importando com o que irão pensar, se pretendo dizer “Oi quero te ver”, não escrevo. Ligo e falo “Vamos nos ver a que horas?”

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

“There are so many special people in the world…”

Já dizia a nova música da Vanessa da Mata. Estou num momento muito assim, querendo conhecer pessoas, e achando todo mundo muito interessante. Ando falando muito de mim, de tudo o que me interessa, e que está ao meu redor. Egocêntrica? Talvez, mas pra quem andava depressiva(vide primeiro texto), olha o progresso! O fato é que continuo me achando especialmente interessante, a diferença é que descobri que tem muita gente assim espalhada por aí! Independência é a palavra de ordem. Incoerência também. Quem foi que disse que tudo na vida precisa de lógica?
Esse texto, por exemplo, não faço a menor idéia de onde queira chegar com todas essas linhas. Escrevo porque gosto, apenas. Talvez o barulhinho do teclado me agrade. Talvez ver as letrinhas aparecendo na página em branco do Word seja relaxante. Só sei de uma coisa, estou inquieta. Nada me detém por muito tempo. Exceto escrever. Frases curtas. Diretas. Telegráficas. Traduzem essa sensação. Seu Jorge já não me importa mais. O som do teclado é muito melhor. Estou devaneando, seria a melhor definição do que estou fazendo. Mas gente, eu comecei com a frase da música da Vanessa da Mata, agora falo de barulhinho do teclado? Total ausência de sentido. Que nem os nossos pensamentos. Quantas vezes não nos pegamos pensando em uma coisa totalmente sem relação com a outra do nada? Os pensamentos parecem brotar em nossas cabeças sem a menor inibição. Capacidade de concentração? Nunca fui muito boa nisso.
Minha mente vai e vem a todo momento, todos os detalhes me atraem, me lembram algo ou alguém. Sou um livro de memórias vivo. Super caótico. Grande contradição essa. Sou incapaz de decorar um simples nome. Mas me lembro de tudo em detalhes. Me peça pra contar uma história que aconteceu anos atrás? Mas voltando à Vanessa da Mata, o fato é que o mundo está cheio de pessoas interessantes. E elas vivem andando por aí, lado a lado com a gente no meio da rua, o problema é que vivemos fechados em nosso mundinho interior, dos nossos problemas, dos nossos amigos, da nossa família. Eu sempre me vi muito fechada com relação aos outros.
Quem foi que disse que preciso de novos amigos? Já tenho muitos, e me falta tempo para dar atenção a todos eles. Mas é preciso buscar nos outros aquilo que nos falta. E, para isso, precisamos nos abrir aos outros. Eles sempre podem te trazer algo que você não tem e que muitas vezes nem sabia que estava procurando!