quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A indesejável presença da ausência

Para sentir saudade é imprescindível ter em mente uma experiência passada que possibilite-a. Talvez ela seja o sentimento mais lógico e racional que o ser humano possa experimentar. O amor, por exemplo: quantas pessoas já não se apaixonaram à primeira vista!? A raiva e o ódio também são sentimentos que precisam de segundos para se manifestar. Uma coisa quase que instantânea. Mas não efêmera. Não é isso o que quero dizer. Para atingirmos a saudade é preciso que se percorra vários estágios. É necessário que, antes, tenhamos sentido outros sentimentos – positivos. Positivo porque ninguém sente “falta” de algo que não tenha gostado, que não tenha lhe agradado, que tenha lhe feito mal - o masoquista até sente, mas isso é outra história - Ao mesmo tempo que ela seria o sentimento mais racional, visto que teria uma explicação cartesiana - sinto-falta-de-alguma-coisa - ela é a mais estranha em suas manifestações. Quando amamos, a pessoa amada é o objeto de desejo. Queremos estar perto dela, o coração bate forte ao vê-la. Quando sentimos inveja, desejamos possuir o que é do outro. Com a raiva somos capazes de matar um. Mas ao sentirmos saudade - pelo menos é assim que ela se apresenta a mim - me vem uma dor em meu coração. E essa dor não é física, não é tangível.
Automaticamente, ao pensar na palavra, me vem à cabeça lembranças felizes e outras nem tanto.
Penso em meu pai, que partiu tão cedo. O tempo que me distancia de sua presença faz com que seu rosto desapareça de minha memória.
Recordo minha infância, cheia de inocência e crenças que, hoje, me parecem difíceis de serem postas em prática.
Lembro de amigos que estão distantes e, curiosamente, próximos – fato esse possibilitado pela saudade.
Dia desses conversando com miss Piller, chegamos a uma conclusão curiosa: existem vários tipos de saudade. E esse sentimento se manifesta de forma singular para cada pessoa/situação/recordação. Não que ela seja maior ou menor. É apenas singular. É única. Uma experiência de saudade parece que foi criada apenas para aquele caso específico. Você não conseguirá repeti-la com outra pessoa/situação/recordação.
Em pelo menos uma coisa ela se assemelha aos outros sentimentos: ela não pode ser dimensionada, mensurada. Pouca, muita, mais-ou-menos. Ela É. SENTIMOS.
E, cabe a nós aprendermos a conviver com ela, na busca incessante de deixarmos de experimentá-la. Em alguns casos – e, infelizmente, só para alguns – desejamos não senti-la, erradicá-la de nossas vidas, tornando presente o objeto em falta.
Por isso, se possível, atenda ao meu pedido: MATEMOS-NA.

5 comentários:

Flávia Feijó disse...

Liiiiiiiindooooooo, Lindo, Lindo, Lindo...
Cara, esse texto mexeu demais cmg, já te disse isso...
Quando eu paro pra pensar em uma palavra que possa simbolizar esse ano pra mim, não tem outra: SAUDADE
vc, mais do que ninguém, conhece todos os motivos.
Mais cedo ou mais tarde, eu certamente escreveria sobre esse tema...

Anônimo disse...

"Em alguns casos – e, infelizmente, só para alguns – desejamos não senti-la, erradicá-la de nossas vidas, tornando presente o objeto em falta."

Nossa... sem comentários... PERFEITO!!

Anônimo disse...

Primeiramente gostaria de elogiar o portugues impecavel. Fico perplexo como vcs sao as gramáticas em pessoa ! ISSO EH INCRIVEL !!!!
Agora sobre o texto
parabens parabens e parabens !!!
mto maneiro.
Sobre as saudades soh posso dizer... Eh incrivel como ela se manifesta.. Eh incrivel como as vezes criamos saudades de alguem que acabamos de ver a 2 minutos. E eh incrivel como existem varios tipos de saudades. Ai ai. essa vida eh uma viagem mesmo...

Ver para crer disse...

e só de pensar que esta palavra só existe no Brasil....

palavra única que afeta o mundo inteiro.

Muito louco isso!!

Zehhh
tô com.......SAUDADES!!!!!!!!

Anônimo disse...

gostei daquela parte dos vários tipos de saudade.... tá incrivel o texto... acredito que seja seu ápice no divã.. beijos