quarta-feira, 24 de outubro de 2007

anotações da aula de psicanálise

Estou fazendo esse período uma matéria chamada Cinema e Psicanálise que tem me feito pensar em muitas coisas. Entre elas, como a psicanálise é uma religião. Um dia desses a professora, uma mulher interessantíssima, exemplo de como envelhecer bem, verbalizou minhas dúvidas: -Freud é meu pastor e nada me faltará. Falou em sala, juro.

Estou grávida, como alguns já sabem. Volta e meia fico pensando nas coisas que minha filha anda ouvindo na faculdade. Divido com vocês algumas anotações (e meus pensamentos) da aula de psicanálise:


Nossa idéia de realidade vem da dinâmica da construção do nosso EU pelo outro (desde, PRINCIPALMENTE, a infância).

[Também acho, estamos o tempo inteiro nos enxergando pelo olhar dos outros. Ninguém é ‘alguma coisa’ por si só, mas no olhar do outro. Se afirmar faz parte, todos estamos tentando nos construir apoiados nas opiniões dos outros. Agora, vamos escolher ‘espelhos’ melhorzinhos, né?! Por que tem umas opiniões andando por aí que ninguém merece.]

Angústia de Freud: por que não paramos de representar, pensar? Por que nem no sono cessamos/saímos do mundo da linguagem? Aonde queremos chegar?
[Pode crer, que loucura.]

Passamos a vida inteira ‘falando’ para tentar preencher o vazio da falta de sentido da vida.

[Cara, genial. E falar aí no sentido de todas as produções, inclusive artísticas. Se a gente não inventar o sentido da vida, bicho, ela não tem. Por isso eu ando super a favor das religiões, eu tive uma fase revolt, marxista, mas voltei. Vamos inventar sim o sentido da vida, qual o problema das invenções e artificialidades?]

Desde cedo aprendemos que é impossível ter satisfação plena. (Complexo de Édipo). O útero é o paraíso perdido, nossa única experiência de ausência de desejo. Na “sociedade freudiana” os indivíduos sabem lidar com essa ‘falta’, inerente ao ser humano. É essa falta que movimenta nossa sociedade e constrói a civilização.

[Nessas horas eu penso na bebê. Mas também acho essa parte do Freud a mais religiosa de todas. Ele é que pensa que o ser humano tem a consciência da ausência de desejo no útero, quero ver provar. Mas concordo: não existe satisfação plena. Não acho que seja motivo para se acomodar nos desgostos, mas a pirada busca por satisfação full time é ilusão da fuderosa. Precisamos de limites, de castrações para viver em sociedade. Não quer, chora nenêm, se enfia no mato, mas sozinho, porque se juntar mais 3 revoltados vira comunidade hippie e daí as regras (mesmo que piradas) voltam.]

Pensadores contemporâneos consideram nossa época marcada pela “falta de pai”, ou seja, ausência da Lei, sociedade que promete o gozo pleno, discurso contraditório à lógica da castração: “Se você se esforçar, o gozo pleno é possível”. Consumo como sentido da vida. Discurso pós-moderno: não fica-se triste, mas deprimido. Depressão cura-se com remédio.

[Estou fazendo minha pesquisa sobre consumo e minhas leituras até agora foram ótimas. Esse mundo de comercial de margarina, as promessas da publicidade, esse discurso entra nas nossas veias e a gente fica achando que é possível a família perfeita, o sorriso perfeito, a namorada perfeita. Onde foi parar a melancolia? Por que parece tão insuportável ficar triste? Eu sou a favor da tristeza, que isso, curtir uma fossa é lindo. Curtir uma, e não cair de vez.]

5 comentários:

Anônimo disse...

Sou suspeito para falar e comentar sobre algo q esteja relacionado a Freud. Meu cerebro n funciona mto bem nessas hrs. Mas ta de parabens pelo artigo. Sensacional !!!!

Flávia Feijó disse...

Amiga...ARRASA!
Freud...ADORO!
vc sempre inovando nos textos..haha
beijooo

Unknown disse...

Rosa, minha querida futura mãe e amiga...Não me parece que as críticas dessa vez irão diretamente a você, mas principalmente à sua professora. Se as anotações estão corretas, lamento dizer, mas ela dá umas escorregadas feias em Freud. Quantas pisadas na bola de interpretação! Comecemos pela declaração religiosa: ali ela deixou clara toda a sua incapacidade de pensar. Freud pensa por ela, ele a redime desse mundo. Ela é uma escrava de outro pensamento e eu não respeito nenhum pensador assim. Ela o reverencia, e isso é atitude de servo. Não estamos nos enxergando pelo olhar do outro, pois há sociedades e tribos inteiras que não concebem sequer a existência do indivíduo. Para não irmos longe, Lacan não considerava existente a personalidade. Então precisamos ter calma com esse "todos" e com "o tempo todo". Mesmo em nossa sociedade, e eu me coloco como exemplo, há aqueles que negam os valores e constroem-se arrombando as portas dos valores sociais comuns. Ninguém é nada por si só no sentido kantiano, de ninguém é uma "coisa em si". Mas que há a singularidade, há. Por que não paramos de representar, pensar? Essa é a dúvida de Freud, tem certeza? Freud não daria esse vacilo de colocar pensamento e representação juntos. Ele sabia que eram coisas muitíssimo diferentes. No sono não saímos do mundo da linguagem? A sua professora não leu Bachelard noturno?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Não passamos a vida tentando preencher o vazio da vida pela fala porque não estamos, com a fala, tentando dar um sentido à vida. Você acha que os pensadores gregos mais antigos estavam querendo dar sentido a alguma coisa quando começaram a discutir as coisas? Eles apenas sentiam que estavam se transformando, e aquilo os encantava, por isso continuavam a fazer o que faziam. Você é a favor das religiões para dar um sentido à vida? É só isso que a religião significa para você? Dê uma olhada nas "Formas elementares da vida religiosa" do Durkheim e depois me conta se você continua vendo a religião apenas como algo para dar sentido à vida. A religião cria uma sociedade, cria laços entre as pessoas, cria cultura, coisas que pouco importam se existe sentido ou não, mas que são laços integrativos de um povo. Vale a pena diferenciar invenção de artificialidade. Uma é criação pura, originalidade, a outra vem de artifício. O artifício é um recurso originalmente sofístico, de cunho oral, para ludibriar o interlocutor, seduzindo-o pela fala. Freud não tem que provar nada. Você tem que entender que, por vezes, um pensador faz uso de recursos retóricos para poder continuar seu raciocínio, ele não está nem um pouco preocupado em provar nada, inclusive porque não se precisa provar tudo. Isso é mania de empirista ou de realista ingênuo. Por enquanto chega!